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Com atuação de intensivistas, UTIs brasileiras alcançam 84% de sobrevivência para pacientes em estado crítico.

Quase 9 em cada 10 pacientes que passam por uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Brasil conseguem alta e retomam suas vidas. Esse dado foi divulgado nesta quinta-feira (1º) pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), no âmbito da campanha “Orgulho de Ser Intensivista”. Segundo o levantamento, que faz parte do Projeto UTIs Brasileiras e monitora mais de 50% das admissões de adultos em UTIs no País, a taxa de sobrevivência nesses ambientes chega a 84%. A atuação especializada dos médicos intensivistas e outros profissionais nas UTIs brasileiras tem sido fundamental para esses resultados.

A campanha tem como objetivo reconhecer e valorizar o papel dos médicos intensivistas na recuperação de pacientes críticos e sensibilizar a sociedade e gestores de saúde sobre a importância do trabalho dos que atuam em um dos ambientes mais desafiadores da medicina. Ao longo da campanha, a AMIB pretende mostrar histórias de sucesso, compartilhar dados e estatísticas que evidenciam a eficiência do cuidado intensivo, e discutir os desafios enfrentados pelos intensivistas, incluindo as desigualdades regionais e as diferenças entre o setor público e privado.

“Os médicos intensivistas, que estão na linha de frente do cuidado intensivo, buscam garantir que os pacientes recebam um monitoramento contínuo e intervenções rápidas e precisas. Para nós, a UTI é um espaço de recuperação e esperança, e não de desfecho fatal”, destaca a presidente da AMIB, Patrícia Mello. Ela acredita que a presença de intensivistas capacitados é um fator decisivo para a redução dessa taxa, o que demonstra a importância de investimentos contínuos na formação e valorização dos especialistas para melhorar ainda mais os resultados nas UTIs em todo o Brasil.

Se por um lado a taxa de mortalidade global nas UTIs brasileiras foi registrada em 16%, o levantamento evidencia algumas desigualdades que preocupam os médicos. O Nordeste, por exemplo, tem a maior taxa de mortalidade hospitalar (24,5%), seguida pelo Sudeste (23,2%), enquanto a região Sul apresenta a menor taxa de mortalidade (14,7%). Além disso, hospitais públicos, por exemplo, apresentam taxas de mortalidade mais elevadas (27%) em comparação com os hospitais privados (11%). Em todos os cenários, é possível observar um aumento significativo em 2020, chegando a aproximadamente 35% devido à pandemia, seguido por uma diminuição nos anos seguintes.

Antigamente conhecida como infecção generalizada, a sepse continua respondendo pela principal causa de internação não cirúrgica nas UTIs. Quase um terço dos pacientes que chegam às UTIs o fazem devido a complicações infecciosas graves, que exigem uma intervenção rápida e eficaz por parte dos médicos intensivistas. A sepse é uma resposta inflamatória sistêmica a uma infecção, que pode levar rapidamente à falência de múltiplos órgãos e à morte se não for tratada prontamente.

Nas cirurgias eletivas, as ortopédicas são a principal causa, representando 14,7% dos casos, seguidas por procedimentos invasivos cardíacos e endovasculares (10%). Nas cirurgias de urgência, as cirurgias ortopédicas também lideram, com 15,2% das internações, seguidas por cirurgias abdominais (12,6%).

Os dados revelam um perfil equilibrado entre os pacientes adultos, com homens e mulheres representando aproximadamente metade de todas as internações ao longo dos anos. A distribuição etária indica uma concentração significativa de internações entre os idosos. A idade média dos pacientes internados é de 63 anos. Entre as comorbidades mais frequentes entre os pacientes internados em UTIs, destacam-se a hipertensão arterial, presente em 66,6% dos casos, e o diabetes, em 33,9% dos pacientes. Outras comorbidades significativas incluem tumores sólidos, insuficiência renal crônica e insuficiência cardíaca.

UTIs Brasileiras – Há quase 15 anos, o projeto UTIs Brasileira é uma iniciativa da AMIB em parceria com a Epimed Solutions. A plataforma incorpora informações para orientar políticas de saúde e estratégias de cuidado aos pacientes críticos. Atualmente, a maior plataforma epidemiológica de UTIs do mundo reúne informações de 724 hospitais, 1.636 UTIs e 22,7 mil leitos, tendo monitorado quase 5 milhões de admissões em todo o País desde seu lançamento. Somente em 2024, o projeto estima registrar mais de 1 milhão de novas admissões.

“Para uma UTI organizada, a gestão de dados é essencial. Precisamos de dados que possam ser transformados em informações e que nos permitiram tomar decisões. Neste sentido, o UTIs Brasileiras é uma iniciativa que busca incentivar o maior número de UTIs do nosso País a ter essa cultura da coleta de dados, da decisão baseada em dados e da melhoria contínua baseada em evidências”, explica Ederlon Rezende, presidente do Conselho Consultivo da AMIB.

Segundo o médico, as UTIs que coletam dados são as mais organizadas e quando fazem gestão baseada em indicadores tem melhores resultados. “O especialista em Medicina Intensiva, dentre suas distintas habilidades, destaca-se a capacidade de liderar a equipe e o processo de organização da UTI”, disse.

Com base nesses dados, além do apelo por um fortalecimento das políticas públicas voltadas para a capacitação e valorização dos médicos intensivistas, a AMIB recomenda a implementação de protocolos rigorosos de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz de sepse.

Entre outras ações, também recomendada o reforço em campanhas sobre a importância da prevenção de infecções e sobre a importância de hábitos saudáveis e a procura de atendimento médico precoce para condições graves.